É possível termos racionamento de energia em 2021

Marcos Antonio Grecco
3 min readMay 28, 2021

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No passado, o racionamento de energia causou insegurança no Brasil. Entenda o cenário atual e veja as possibilidades de isso ocorrer em 2021!

A possibilidade de um novo racionamento de energia ainda causa insegurança em milhares de pessoas no Brasil. Todo início de ano, a sociedade questiona os setores responsáveis sobre a possibilidade de isso acontecer novamente.

O medo atual vem do início dos anos 2000 quando o país viveu um forte racionamento de energia para evitar o apagão. Naquela época, 90% da produção de energia vinha de usinas hidrelétricas e o país passava por uma escassez de chuva, com os reservatórios com níveis baixíssimos. Aliado a isso, a falta de investimentos em infraestrutura e pouca diversificação da matriz energética levou o país a uma grande crise.

Atualmente, mais de 60% da energia produzida no Brasil vem de usinas hidrelétricas. Mesmo que nesses 20 anos investimentos tenham sido feitos em outras matrizes, em caso de aumento de consumo ou escassez de chuva, é possível que essa única matriz não consiga suprir a demanda do mercado.

Quais os motivos para um possível racionamento de energia?

Com um plano de vacinação contra a Covid-19 em curso, a tendência é de que o mercado volte a crescer e a economia se estabilize. Com isso, os setores produtivos voltarão a produzir e o consumo de energia também vai aumentar.

Associado a isso está o fato de pouca ocorrência de chuvas nas áreas das usinas. Desde dezembro, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registra baixa quantidade de água dos reservatórios. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste os valores foram os piores da última década. A situação não é atípica, pois há vários anos a hidrologia do país tem sido ruim.

Segundo o ONS, o parque elétrico brasileiro tinha, em novembro de 2020, uma capacidade instalada de 165 mil megawatts. Em janeiro de 2021, a carga média de energia no SIN foi de 69 mil megawatts. Ou seja, número bem menor do que o limite da capacidade. Porém, nem toda a capacidade do parque elétrico fica disponível ao mesmo tempo. A falta de disponibilidade de energia — água, sol, vento, óleo combustível — ou paradas para manutenção e problemas técnicos impactam na quantidade disponível de energia.

Entre os especialistas não há consenso sobre a situação. Autoridades do setor elétrico dizem não ver possibilidades de desabastecimento. Contudo, a falta de chuvas periódicas faz com que um número maior de térmicas sejam ligadas para garantir o fornecimento. Consequentemente, as tarifas de luz aumentam, impactando toda a cadeia.

Historicamente isso já ocorre desde 2013, quando as térmicas são utilizadas para suprir o déficit da produção das hidrelétricas. Embora seja um problema antigo, pouco se tem feito para quebrar essa dependência.

Quais as soluções para impedir novos apagões?

Desde o apagão de 2000, o governo criou planos e traçou metas para investimentos em vários setores, como expansão da energia eólica e solar, biogás e gás natural. Contudo, há ainda uma lacuna que precisa ser preenchida para que o país se torne independente.

A atual configuração do setor elétrico precisa mudar. A lei do gás, a privatização da Eletrobrás e a modernização do setor são pontos importantes para avançar nesse sentido. Mesmo que a capacidade instalada de geração tenha crescido, grande parte desse aumento vem de fontes renováveis.

Ou seja, sua intermitência e sazonalidade reduzem a reserva girante do sistema, mantendo-o ainda na dependência de condições climáticas. De qualquer maneira, com racionamento ou não, a perspectiva é de que a tarifa de energia residencial tenha aumento médio de 14,5% neste ano, segundo estimativa da TR Soluções.

Portanto, é possível dizer que o racionamento de energia em 2021 é pouco provável. Contudo, os motivos pelos quais isso pode ocorrer levantam discussões relevantes sobre a modernização do setor elétrico e a diversificação das matrizes.

Publicado originalmente no site do Gnpw Group.

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Marcos Antonio Grecco é fundador e CEO do GNPW Group e Doutor em Economia pela Universidade Candido Mendes.

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